Ser ou Ter? Eis a questão: a partir dessa máxima, comecei a refletir sobre o assunto, e meus neurônios logo entraram em conflito, travando uma guerra santa.
Dividiram-se em duas correntes:
A mais ansiosa delas saiu logo defendendo a tese de que a diferença entre o ser e o ter não era palco para grandes discussões, uma vez que se tratava de assunto óbvio, ou seja, que na vida, independentemente da questão material, temos que ser pessoas especiais voltadas para o bem comum, precisamos dar valor à vida, enfim, vivermos e sermos felizes. A outra corrente, por sua vez, defendia o cúmulo da obviedade, alegando que: se sabemos, por meio de exemplos do dia a dia e de farta literatura motivacional, que a felicidade habita em nosso interior, que não depende de terceiros, mas sim de nós mesmos, qual a razão para resistirmos a ela? Por que não raras vezes sabotamos nossa própria vida, deixando de aproveitar as oportunidades que surgem, devido ao medo e à insegurança? Quando saímos da caixa em que estamos acostumados a viver dispostos a uma reflexão, tendo como parâmetro o Universo, concluímos que nossos problemas, medos, traumas, mágoas, angústias, desafetos, enfim, sentimentos negativos, são tão pequenos diante dos problemas dos outros, que não nos damos conta de que somos felizes e não sabemos.
Esses sentimentos ruins, responsáveis pelas famosas depressões, cuja cura, na maioria das vezes, depende única e exclusivamente do estado psicológico e emocional do afetado, são a causa da segunda corrente para conceituar o ser como o óbvio elevado ao quadrado. Depois de analisar atentamente e com cautela a calorosa discussão entre os meus neurônios, resolvi intervir e acabar logo com a algazarra. Sugeri-lhes que entrassem em um acordo e chegassem a uma conclusão sábia. Assim o fizeram. Trataram de se organizar e chegaram ao entendimento que para “ser” alguém especial, digno de uma morada no espaço celestial, devemos ser diferentes, enxergarmos com os olhos de uma águia as entrelinhas da vida, vislumbrando do mais alto vôo, independente de sol ou temporal, o lugar aonde queremos chegar.
Como devem ter percebido, não se trata mais de “ser ou ter”, mas do “ser ou ser”.
Se optarmos por ser “um perdedor”, “um pessimista”, “um infeliz”, o que nos tornaremos? Caso optemos pela felicidade, por viver a vida apreciando e extraindo o que há de melhor, por certo, seremos vencedores, otimistas e felizes.
Na verdade, não existe certo ou errado, o que existe é o nosso estado de espírito, pois somos exatamente aquilo que pensamos. Por isso, devemos sempre estar sintonizados com a alegria, a solidariedade, o amor e fazendo com que esses sentimentos interajam com as nossas mentes e nossos corações e com as pessoas que estão à nossa volta.
Que me desculpem as duas correntes dos meus neurônios, mas o óbvio só é óbvio, como diz Lair Ribeiro, para a mente preparada.
“O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar.”
Clarice Lispector
AUTOR JULIO CESAR SOARES DA SILVA
1 comentário
José Antônio Coutinho · 19/02/2023 às 17:20
Eu entendo que não valemos pelo o que temos , mas pelo o que somos .